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PrevidĂȘncia: Governo vai propor alterar regras para trabalhador na ativa

Henrique Meirelles, ministro da Fazenda
Henrique Meirelles, ministro da Fazenda Foto: Eliaria Andrade/2.9.2013 / AgĂȘncia O Globo
GERALDA DOCA / MARTHA BECK

BRASÍLIA - A proposta de reforma da PrevidĂȘncia em discussĂŁo no governo, que serĂĄ encaminhada ao Congresso Nacional em, no mĂĄximo, 30 dias, atinge os atuais trabalhadores, com regras de transição para reduzir os impactos para quem estĂĄ perto de se aposentar. Somente nĂŁo seria prejudicado quem jĂĄ estĂĄ aposentado ou completou os requisitos para requerer o benefĂ­cio antes da mudança nas regras. Segundo interlocutores, a medida Ă© necessĂĄria para produzir efeitos rĂĄpidos e reduzir a pressĂŁo das despesas dos benefĂ­cios nas contas pĂșblicas. Escalado no novo time da economia, o especialista Marcelo Caetano assumirĂĄ a Secretaria da PrevidĂȘncia, tendo como missĂŁo desenhar a reforma, dentro do MinistĂ©rio da Fazenda. Ele Ă© um defensor da fixação de idade mĂ­nima para aposentadoria.
— Marcelo Caetano tem como principal finalidade formular uma polĂ­tica de previdĂȘncia no Brasil — disse ontem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao anunciar os nomes da sua equipe.
Meirelles afirmou que ainda nĂŁo hĂĄ proposta pronta — o que ocorrerĂĄ dentro de um mĂȘs, considerado por ele um prazo “adequado” para que nada seja feito de forma “precipitada”. Apesar do tom cauteloso, o ministro deu sinais sobre a linha geral da reforma, confirmada por assessores do presidente interino Michel Temer, de que a mudança nas regras valerĂĄ para quem estĂĄ no mercado e nĂŁo sĂł para os futuros trabalhadores. Na fala, o ministro chamou a atenção sobre a diferença entre direito adquirido e expectativa de direito:
— Uma das questĂ”es mais profundas e complexas que precisam ser analisadas Ă© a que caracteriza o direito adquirido e o que Ă© meramente a expectativa do direito, baseada em normas que vĂŁo ser discutidas no devido tempo. Existe um consenso que mais importante Ă© que exista uma PrevidĂȘncia Social que seja sustentĂĄvel e autofinanciĂĄvel, e Ă© que todos os trabalhadores tenham a garantia de que a aposentadoria serĂĄ paga e cumprida e que o estado serĂĄ solvente para cumprir as suas obrigaçÔes. Vamos estudar com cuidado e, para isso, a Secretaria da PrevidĂȘncia vem para o MinistĂ©rio da Fazenda, para trabalhar conosco, visando Ă  garantia dessa solvĂȘncia do Estado e Ă  sustentabilidade da PrevidĂȘncia Social como um todo.
Meirelles tambĂ©m deixou claro que a proposta serĂĄ debatida com as centrais sindicais e com parlamentares, antes de ser enviada ao Congresso. Na segunda-feira, o governo decidiu criar um grupo de trabalho, coordenado pela Casa Civil com representantes das centrais para discutir o assunto, apesar da resistĂȘncia dos sindicalistas Ă s mudanças, sobretudo ao impor mudanças aos trabalhadores que jĂĄ estĂŁo no mercado.
GASTO DE R$ 496,4 BILHÕES ESTE ANO
Segundo integrantes do governo, uma reforma sĂł para os novos trabalhadores teria efeito nas contas pĂșblicas em 40 anos. Eles chamam a atenção sobre o gasto do governo com pagamento de benefĂ­cios: sĂł com INSS estĂĄ projetado em R$ 496,4 bilhĂ”es neste ano — o que consome 35,2% do total de receitas da UniĂŁo. A cifra, que hoje representa 7,95% do Produto Interno Bruto (PIB), saltarĂĄ para 17,2% em 2060, se as regras nĂŁo forem mudadas. Este ano, o regime deve fechar com rombo de R$ 133,6 bilhĂ”es, e o prĂłximo, em R$ 167,6 bilhĂ”es. Em 2015, o dĂ©ficit foi de R$ 85,8 bilhĂ”es (valores nominais).
Especialistas argumentam que a reforma jĂĄ estĂĄ atrasada, diante do tamanho do gasto e do perfil demogrĂĄfico brasileiro. Eles afirmam que, para cobrir o rombo da aposentadoria, o governo federal fica sem recursos para investir em educação e saĂșde.
— A despesa hoje jĂĄ Ă© muito alta, e, diante da dificuldade em elevar a carga tributĂĄria e cortar gastos, as contas pĂșblicas podem ficar inviabilizadas em perĂ­odo nĂŁo muito longĂ­nquo — disse o especialista em previdĂȘncia e pesquisador do Instituto de Pesquisa EconĂŽmica Aplicada (Ipea), RogĂ©rio Nagamine.
Para Leonardo Rolim, consultor da ComissĂŁo de Orçamento da CĂąmara e ex-secretĂĄrio de PrevidĂȘncia Social, Ă© preciso criar regras novas para quem estĂĄ no mercado e para quem ainda vai ingressar.
— Para os atuais, Ă© preciso criar regras suaves de transição de modo que, quem estiver prĂłximo da aposentadoria seja o menos afetado possĂ­vel, e quem estiver longe, mais. Uma reforma sĂł para os novos nĂŁo tem potencial para assegurar a sustentabilidade do sistema — disse.
O rĂĄpido envelhecimento da população brasileira afeta as contas da PrevidĂȘncia. O sistema que vigora no paĂ­s Ă© o de repartição, em que trabalhadores ativos ajudam a pagar os benefĂ­cios dos aposentados. Segundo dados do IBGE, existem 11,8 idosos para cada cem pessoas em idade ativa (15 a 64 anos); em 2060, essa proporção sobe para 44.
Segundo Nagamine, a reforma precisa ser ampla, com a fixação de idade mĂ­nima, e tocar em assuntos delicados, como a revisĂŁo dos benefĂ­cios enquadrados na Lei OrgĂąnica de AssistĂȘncia Social (Loas), que equivalem a um salĂĄrio-mĂ­nimo ao idoso ou deficiente da baixa renda e que contribuĂ­ram para o INSS em algum momento. Esses gastos pularam de R$ 6,8 bilhĂ”es em 2002 para R$ 35,1 bilhĂ”es em 2014. Pelas regras atuais, quem contribui por 15 anos, prazo mĂ­nimo, aposenta-se aos 65 anos, recebendo o mesmo valor.
Na visĂŁo dos especialistas, se o governo enviar logo a reforma ao Congresso, hĂĄ chance de aprovação no fim do ano, apĂłs as eleiçÔes municipais. No entanto, a medida vai exigir força polĂ­tica e articulação com parlamentares, diante da forte resistĂȘncia a medidas impopulares.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, disse que derrubar a reforma da PrevidĂȘncia serĂĄ a principal bandeira da Central. Ele disse que vai procurar as outras entidades para fazer um movimento unificado contra as mudanças, independentemente de “posição ideolĂłgica”. E jĂĄ estĂĄ programando manifestaçÔes em todas as capitais em junho:
— Vamos derrubar a proposta de reforma da PrevidĂȘncia no Congresso e nas ruas. Vamos trabalhar juntos e promover a unificação dos sindicatos contra a retirada de direitos.
A CUT se recusou a participar do encontro com Temer na segunda-feira. O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), também disse que não farå acordo com o governo e que a entidade não aceita mudanças para os atuais trabalhadores. Após reunião com o presidente e Meirelles, ele sinalizou que poderå se unir à CUT.

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