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Impatia: O SilĂȘncio que Escuta o Outro


Em um mundo que grita por atenção, a impatia sussurra. Pouco conhecida, muitas vezes confundida com empatia, essa palavra guarda em si um convite raro: nĂŁo se colocar no lugar do outro, mas permitir que o outro ocupe o prĂłprio lugar, com presença, escuta e nĂŁo interferĂȘncia.


Vivemos tempos em que a empatia virou moeda social. Espera-se que sejamos empĂĄticos, que "nos coloquemos no lugar do outro", que sintamos a dor alheia como se fosse nossa. Mas e se isso, em certos momentos, mais atrapalha do que ajuda?


A impatia Ă© uma postura mais silenciosa e menos egocentrada. É a arte de nĂŁo invadir o territĂłrio emocional do outro com nossas prĂłprias experiĂȘncias, julgamentos ou urgĂȘncia de ajudar. NĂŁo se trata de frieza ou apatia — muito pelo contrĂĄrio. Impatia exige mais coragem do que conselhos: Ă© estar presente sem tentar controlar.


 “A impatia Ă© o reconhecimento de que o outro tem direito Ă  prĂłpria dor, sem que eu precise medi-la com a rĂ©gua da minha vivĂȘncia,” explica a psicĂłloga e escritora brasileira Ana Paula Leal, que hĂĄ anos estuda relaçÔes humanas e escuta terapĂȘutica. “É um silĂȘncio ativo.”


O Peso de Ajudar Demais


Sabe aquela amiga que estĂĄ passando por um divĂłrcio? Ou o colega de trabalho em luto? Às vezes, o impulso imediato Ă© dizer: “Se eu fosse vocĂȘ...” ou “Eu entendo exatamente o que vocĂȘ sente”. Mas serĂĄ que entendemos mesmo?


“Essa necessidade de interferir no sentimento do outro pode ser, no fundo, uma tentativa de nos aliviar da dor que nos causa ver o sofrimento alheio”, aponta a terapeuta. “A impatia nos convida a conter esse impulso. Ela pede humildade.”


Ser impĂĄtico Ă© tambĂ©m um antĂ­doto contra o narcisismo empĂĄtico — quando transformamos a dor do outro em palco para a nossa prĂłpria histĂłria.


Escutar sem Roubar a Cena


Diferente da empatia tradicional, que muitas vezes exige identificação emocional, a impatia Ă© um ato de espaço. Ela reconhece que o outro nĂŁo precisa de salvação — apenas de presença verdadeira.


É o que faz Maria*, 52 anos, cuidadora de idosos, todos os dias. “Às vezes, eles sĂł querem que alguĂ©m esteja ali. Nem sempre querem conselhos. SĂł presença. SilĂȘncio. MĂŁo dada. Isso Ă© mais difĂ­cil do que falar.”


Ela aprendeu, com o tempo, que as palavras nem sempre ajudam. “Antes eu queria consolar, resolver. Hoje eu sei que cada um tem o seu tempo. Isso tambĂ©m Ă© amor.”


A Impatia no Cotidiano


A impatia pode parecer sutil, quase invisível. Mas estå presente em açÔes simples:

Ficar em silĂȘncio quando alguĂ©m desabafa, sem preencher o espaço com sua histĂłria.

Não interromper com sugestÔes råpidas ou soluçÔes mågicas.

Permitir que o outro chore, sinta, se expresse — sem tentar apressar o processo.

Ouvir com o coração, mas com os pés firmes no seu lugar.

Talvez seja hora de falarmos menos e estarmos mais. A impatia nĂŁo Ă© ausĂȘncia de empatia, mas uma forma mais profunda e respeitosa de amar.

> No fim das contas, impatia Ă© isso: acolher o outro sem roubar-lhe a dor.

Porque hĂĄ dores que nĂŁo querem ser entendidas — apenas vistas.


Texo: JOTA P ASSIS

 

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